A péssima dublagem de Doctor Who no Crackle
A velha briga entre os amantes de produções dubladas versus legendadas ganhou um novo round. Mas dessa vez com vitória para os que preferem ler... A preferência por produtos dublados tem aumentado com as regras impostas para exibição em terras tupiniquins.
É sabido que a dublagem brasileira é uma das melhores (se não a melhor) de todo o sistema solar, seja você um fã de dublagem ou não. Até mesmo o intérprete do Wolverine, Hugh Jackman, reverenciou o trabalho do seu dublador nos filmes da franquia, Isaac Bardavid. Vale lembrar que o dublador tem 87 anos, enquanto o ator tem 50...
Apesar de a maioria dos trabalhos ser ótima ou pelo menos boa, claro que há pontos ruins em materiais dublados, como vozes que não combinam, falta de sincronia, traduções não muito bem elaboradas, etc. Além de haver as jogadas de marketing, quando alguma celebridade famosa é chamada para dar voz a uma personagem, geralmente animação, para "chamar" o público. Tal "falcatrua" dos estúdios desvaloriza o trabalho dos atores em dublagem e por diversas vezes ainda acaba por deixar o trabalho péssimo. Um exemplo bem recente disso é o filme da Disney, Enrolados, onde um apresentador sem o menor talento pra dublar simplesmente detonou o filme. Saiba você que esses convidados ganham até 30x mais que um dublador.
Não fosse isso o bastante, estúdios em Miami também entraram na festa, sucateando o mercado. Assim como as dublagens feitas na cidade de Campinas/SP (que têm melhorado gradativamente, sejamos francos), os estúdios em Miami são os responsáveis pelas piores dublagens possíveis. O material fica tão ruim que parece aquelas que os amadores fazem em casa. Não tem emoção, interpretação, sincronia e as piadas são terríveis.
A série Doctor Who está encabeçando a polêmica atual com uma dublagem digna de jogar fora e refazer. Raramente você vai assistir algo tão ruim quanto isso:
Guilherme Briggs, por meio de seu perfil no Twitter:
Não façam isso com Doctor Who na dublagem, por favor! Colocar “Boulos” e “Bolsonaro” pra fazer humor barato e forçado? QUEREMOS DUBLAGEM DE QUALIDADE! (…) Eu não acredito que fizeram isso, é inacreditável, decepcionante e frustrante. A gente luta pela qualidade da dublagem no Brasil e estúdios de Miami fazem isso?”
Pedro Alcântara, dublador e diretor, define adaptação:
"Adaptar não é colocar piadas brasileiras sem critério algum numa dublagem. Adaptar é passar a mensagem correta em outro idioma. O público não é burro, sabe que os personagens são britânicos e não devem saber quem é Palmirinha. E os óculos escuros usados na cena, aliás, são iguais aos que a Audrey Hepburn usou em Bonequinha de Luxo e a dublagem matou isso. No terceiro episódio, uma piada envolvendo Banksy foi trocada por uma piada com Tarsila do Amaral. No original, a piada se referia ao fato de ninguém saber ao certo a real identidade de Banksy. Não dá pra dizer que existe uma equivalência entre os artistas nessa piada. No quarto episódio, foi feita uma piada envolvendo Boulos e Bolsonaro. Deixou a dublagem datada e tirou o foco do roteiro, que no original evidenciava a solidão da personagem Yaz, e não sua opinião sobre políticos brasileiros."
Assim não dá, hein, Sony...
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